Circular Pastoral | Compromisso com a Justiça e a Libertação


CIRCULAR PASTORAL
"O Compromisso da Arquidiocese de São Paulo com a Justiça e a Libertação"

DOM FREI AGNELO CARDEAL ROSSSI, OFMCap
ARCEBISPO METROPOLITANO DE SÃO PAULO

        Amados irmãos no sacerdócio e 
        demais membros do clero da Arquidiocese de São Paulo,

Dirijo-me a vós com profunda alegria e renovada esperança, pois é chegado o tempo de reafirmarmos nosso compromisso com a missão evangélica e pastoral de nossa Igreja particular. A Arquidiocese de São Paulo, a quem o Papa Urbano confiou ao meu pastoreio, há de ser uma Igreja viva, uma Igreja profética, uma Igreja que se inclina aos pobres e marginalizados, sustentada pelo espírito evangélico da partilha e da justiça.

Não podemos negligenciar a importância das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), verdadeiro sinal da presença do Reino de Deus em meio ao povo. A experiência da Igreja em São Paulo tem demonstrado que essas comunidades são autênticas escolas da fé, onde os leigos assumem com coragem o protagonismo na vivência do Evangelho. Elas são a resposta concreta à necessidade de uma Igreja que se faz próxima, que não se enclausura em seus templos, mas que se faz presente na vida e na luta de seu povo. Devemos, pois, incentivá-las, fortalecê-las e ampliá-las, garantindo-lhes o apoio pastoral e espiritual necessário para que continuem a florescer.

Neste tempo de grandes desafios, reafirmo a necessidade inadiável de desenvolvermos e aprofundarmos a Teologia da Libertação em nossa Arquidiocese. O Evangelho que pregamos não pode estar desvinculado da realidade social que nos cerca; ao contrário, deve iluminá-la e transformá-la. O Senhor nos chama a ser pastores de um rebanho sofrido, a enxergar os sinais dos tempos e a denunciar toda forma de opressão e injustiça que atinge o nosso povo. A Teologia da Libertação não é uma ideologia passageira, mas sim um compromisso permanente com os pequenos, com os esquecidos, com os crucificados da história. Ela nos recorda que Cristo não veio ao mundo para reforçar as estruturas de poder que perpetuam a exclusão, mas para anunciar um Reino onde o amor, a justiça e a fraternidade são os alicerces.

Diante disso, convido-vos, irmãos, a uma renovada reflexão sobre nossa ação pastoral e evangelizadora. Devemos assumir com coragem e fidelidade o chamado do Evangelho para ser uma Igreja em saída, uma Igreja missionária e comprometida com os mais necessitados. Que nossas paróquias se tornem verdadeiros centros de acolhida e formação, onde os pobres encontrem refúgio, onde os jovens sejam incentivados a sonhar e construir um mundo novo, onde os trabalhadores sejam reconhecidos e valorizados em sua dignidade, onde a esperança renasça a cada dia.

Não esqueçamos, caríssimos irmãos, que a missão que nos foi confiada exige de nós desprendimento e fidelidade. Exige que abandonemos o conforto das estruturas estabelecidas e nos lancemos ao encontro daqueles que mais precisam de nossa presença e solidariedade. O pastor não pode temer a voz das ovelhas, mas deve caminhar com elas, guiá-las e, se necessário for, entregar sua própria vida por elas.

Peço-vos, pois, que vos unais a mim nesta jornada. Que cada padre, cada bispo, cada religioso e religiosa, cada leigo comprometido com a missão da Igreja, tome para si este chamado à renovação pastoral. Juntos, seremos testemunhas vivas do Evangelho e edificaremos, sob a graça de Deus, uma Arquidiocese verdadeiramente fiel à missão de Cristo.

Que a Virgem Maria, mãe dos pobres e modelo de serviço e humildade, nos acompanhe e interceda por nós. E que o Espírito Santo nos conduza sempre no caminho da justiça, da paz e da libertação.

Fraternalmente,
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