“A Catedral estremeceu”: Dom Agnelo Rossi celebra primeira Missa na Sé e declara fidelidade ao legado do Papa Francisco


São Paulo, 21 de abril de 2025 — Sob o peso da comoção e da saudade, a Arquidiocese de São Paulo prestou, nesta tarde, sua mais solene homenagem ao Papa Francisco, falecido nesta manhã, com uma missa de sufrágio celebrada pelo Arcebispo Metropolitano, Dom Agnelo Cardeal Rossi. A celebração, realizada na Catedral da Sé, reuniu milhares de fiéis, emocionados com a partida daquele que foi chamado por muitos de “o último pastor do Concílio”.

O Arcebispo, profundamente comovido, destacou o legado de Francisco como um pontificado marcado pela coragem, pela ternura e pela fidelidade radical ao Evangelho dos pobres.

“Francisco não governou a Igreja do alto de um trono. Ele caminhou conosco, sujou as sandálias no barro da humanidade e nos ensinou que a ternura é revolucionária”, proclamou Dom Agnelo, ao abrir a homilia.

A celebração foi concelebrada pelo Cardeal Dom Godofredo Tadesco, Prefeito-emérito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, Dom Idalécio Araújo, bispo-auxiliar, e pelos padres Gilmar Costa (chanceler), Emanoel Nunes (vigário episcopal), Guido Marini (vigário do Santuário Mãe de Deus) e Pe. Piero, da Diocese de Roma — representando a comunhão da Igreja universal.

O Papa Francisco, que por mais de uma década liderou a Igreja com ousadia e compaixão, foi lembrado como aquele que reaproximou a fé da vida real, desafiou os poderes estabelecidos e fez do papado um lugar de escuta, acolhimento e conversão.

“Ele nos ensinou a não temer as periferias, a não nos escandalizarmos com a dor do outro, e a sonharmos com uma Igreja em saída, em constante reforma, ferida sim — mas santa na sua luta”, afirmou o Cardeal Rossi, ao final da celebração, com voz embargada.

O momento mais simbólico da tarde foi quando Dom Agnelo, dirigindo-se ao povo, prometeu em alta voz:

“Não deixaremos o sonho de Francisco morrer. Sua morte não é fim, é envio. 
E nós, Igreja de São Paulo, queremos ser continuidade viva do seu Evangelho.”

Fiéis aplaudiram de pé, alguns gritaram “Francisco, presente!” e “Viva o Papa dos pobres!”. Era mais do que uma missa: foi um ato de fé, de gratidão e de compromisso com o Evangelho que move montanhas.

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HOMILIA EM SUFRÁGIO DA ALMA DO SANTO PADRE FRANCISCO


Dom Agnelo Cardeal Rossi
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Catedral da Sé – São Paulo

Queridos irmãos e irmãs,

Nesta noite, o coração da Igreja está ferido. Sofremos como filhos que perdem um pai — um pai que soube abaixar-se até o chão para nos escutar, um pai que nunca teve medo de quebrar protocolos para alcançar os últimos.

Francisco não foi um Papa distante. Foi um pastor com cheiro de ovelha.

Ele preferiu os becos às sacadas, os abraços aos aplausos, os pobres às pompas. Quem poderá esquecer o dia em que, recém-eleito, rejeitou o trono e pediu que rezássemos por ele? Quem poderá esquecer sua visita à favela de Varginha, aqui no Brasil, onde disse com voz trêmula: “Nenhum esforço de pacificação será duradouro se se esquecer dos pobres.”

Francisco entrou em casas de madeira e em corações endurecidos. Tocou feridas com a mesma delicadeza com que se ajoelhou diante de presos, refugiados, doentes. A sua grandeza foi a pequenez. O seu poder, o serviço.

Aqui nesta Catedral, em meio ao povo trabalhador de São Paulo, sua ausência nos é um silêncio que fala. Mas é também presença. Uma presença que nos exige: que tipo de Igreja seremos agora? Voltaremos ao luxo e ao distanciamento? Ou honraremos sua memória sendo Igreja de rua, de favela, de povo?

Francisco nos ensinou que o centro do Evangelho é o amor encarnado, suado, misturado à poeira dos pobres. E agora, ao rezarmos por sua alma, sentimos que não o perdemos — porque quem ama assim, permanece.

Descanse, Francisco. A favela te chora. A Igreja te agradece.
E o Reino, esse que você viveu antes de chegar, te recebe de braços abertos.

Amém.
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