
DOM FREI AGNELO CARDEAL ROSSI
ARCEBISPO-ELEITO DE SÃO PAULO
São Paulo, 31 de março de 2025
Memória das Vítimas da Ditadura Militar
Meu caro irmão e amigo,
Frei Marco Antônio, Ministro-Geral da Ordem.
Escrevo com o coração pesado, tomado por uma angústia que só cresce. É duro ver o estado em que nossa Ordem chegou. Você sabe o quanto lutei ao lado de irmãos que já partiram, como Frei Cícero Augusto e nossa querida irmã Noêmia Cardoso. Foram anos de dedicação, de compromisso com os pobres e de enfrentamento às injustiças. Lutamos para que a Ordem fosse um sinal vivo do Reino, mas agora vejo tudo isso se esvaindo, como se nossa história não tivesse significado algum.
Esse semi-tradicionalismo que querem empurrar como novo caminho da Ordem é um tapa na cara de quem entregou a vida ao Evangelho. Como pode uma fraternidade se esquecer dos excluídos, se calar diante da miséria e trocar a opção pelos pobres por uma cômoda submissão às velhas estruturas de poder? Não posso e não vou me calar diante disso.
Portanto, mudo o tom desta carta e faço dela uma PETIÇÃO FORMAL ao Dicastério para o Clero, na pessoa do Cardeal Martinez Somalo, e ao Dicastério para os Bispos, na pessoa do Cardeal Vicent Scopelli. Exijo a INCARDINAÇÃO IMEDIATA de todos os frades capuchinhos na Arquidiocese de São Paulo, para que possam somar forças na missão evangelizadora e no trabalho pastoral junto ao povo. Aqui, entre os trabalhadores e os esquecidos, é onde os capuchinhos sempre deveriam estar.
Não permitiremos que a Ordem se torne um museu de práticas vazias, sem compromisso com os pequenos. Se o franciscanismo não for instrumento de libertação, então sua existência se torna uma farsa. O Cristo que seguimos não vestia sedas nem ocupava tronos dourados; Ele andava entre os pobres, tocava os feridos e foi assassinado pelos poderosos. Se não formos fiéis a esse Cristo, de nada valerá nosso hábito.
Com indignação, mas ainda com fé na justiça do Senhor.
