Ofício nº 02/2025 | Requerimento ao Dicastério para os Bispos

Ao Eminentíssimo Senhor Cardeal Vicente Scopelli
Prefeito do Dicastério para os Bispos
Palácio das Congregações
Cidade do Vaticano



ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO
Gabinete Arquiepiscopal

Eminentíssimo Senhor Cardeal,

Com o devido respeito à Cúria Romana e à estrutura hierárquica da Santa Igreja, escrevo a Vossa Eminência como quem carrega o peso diário da missão episcopal em uma das mais populosas, dinâmicas e desafiadoras metrópoles do mundo. Esta carta não é fruto de exaltação emocional nem de impaciência pastoral, mas sim de um juízo amadurecido pela realidade concreta que se impõe diante de meus olhos — e que exige um posicionamento claro, enfático e, se me permitem, profético.

A nomeação de Dom Gabriel de Orléãns e Bragança como Bispo Auxiliar desta Arquidiocese tem-se revelado um equívoco de consequências danosas. Em apenas duas semanas, o referido prelado tornou-se símbolo de indiferença e desprezo, não apenas pelos compromissos litúrgicos e pastorais desta Sé Metropolitana, mas sobretudo pelo povo de Deus que aqui caminha, luta e crê.

Recusou-se, deliberadamente, a participar da Semana Maior, incluindo a solene Missa da Unidade, celebrada com o clero inteiro da Arquidiocese em fraterna colegialidade. Sua ausência — escancarada, notória, sem qualquer justificativa canônica ou pastoral — causou profundo escândalo, tristeza e perplexidade entre os presbíteros, religiosos e fiéis. Foi, para todos nós, um ato de negação do próprio significado de sua ordenação episcopal.

Como se não bastasse, ostentando o título de Prefeito do Culto Divino — função que deveria exercer com zelo e amor à liturgia — Dom Bragança impôs um silêncio desolador sobre a preparação espiritual da Semana Santa. Pela primeira vez em anos, não houve subsídios litúrgicos, livretos celebrativos ou instruções claras aos sacerdotes. A sagrada liturgia, alma da vida eclesial, foi deixada à própria sorte. Não se trata de um simples lapso organizacional: trata-se de negligência formal, consciente, reiterada. Um verdadeiro desterro espiritual.

Eminência, o que aqui se denuncia não é apenas a falha de um indivíduo, mas a reedição de um erro sistêmico: a imposição de perfis clericais oriundos dos corredores estéreis da Cúria Romana a contextos pastorais que exigem sensibilidade, encarnação e entrega. Dom Gabriel, herdeiro do tradicionalismo clerical que há tempos tento advertir e combater, revelou já em palavras que considera nossa Igreja particular “liturgicamente indigente” e “espiritualmente desordenada”. Seu desprezo pelo que somos, pelo que construímos pastoralmente, não é mais velado: é explícito, é cínico, é ofensivo.

São Paulo não é um museu da tradição, nem uma província a ser "civilizada" pela nostalgia romana. É uma Igreja viva, encarnada nas periferias e nos becos, nos sindicatos e universidades, nas comunidades e nos altares. Aqui se celebra o Deus da vida e da justiça, com as marcas que o Concílio Vaticano II nos confiou.

Assim, diante da situação que se agrava e da total incapacidade de Dom Gabriel Bragança em exercer seu munus episcopal, REQUEIRO, em nome da dignidade desta Igreja e do povo que me foi confiado, o seu AFASTAMENTO IMEDIATO. Não apenas por omissão de funções, mas por incompatibilidade profunda com os princípios pastorais que regem esta Arquidiocese.

Peço a Vossa Eminência que se escute este clamor com a seriedade que ele exige. Não podemos mais suportar que a pastoral concreta das igrejas locais seja sistematicamente comprometida por nomeações que desconsideram nossa realidade. O clericalismo que ainda paira sobre as estruturas romanas tem sido um obstáculo à missão da Igreja em nosso continente, e o caso de Dom Gabriel é apenas o sintoma mais recente.

Reitero minha fidelidade ao Sucessor de Pedro, o Papa Urbano, e minha disposição de colaborar com a Santa Sé, mas não em silêncio cúmplice. A caridade pastoral exige a verdade, e a verdade, neste momento, me obriga a ser duro.

DADO E PASSADO na Cúria Metropolitana de São Paulo, décimo nono dia do mês de abril do ano de dois mil e vinte e cinco, no “Ano da Esperança”, convocado pelo Santo Padre, o Papa Urbano, sob o Sinal e Selo de Nossas Armas.
   
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