Coluna do Cravo – Por um jornalista meio católico, meio cínico, mas 100% intrigado

Dom Agnelo desenterra padre ultraconservador e transforma Sínodo em campo de batalha

Quem esperava do Arcebispo de São Paulo uma resposta pastoral ao incêndio causado pelas declarações do padre Geraldo Maia, recebeu outra coisa: gasolina.

Numa jogada que ninguém viu chegando — nem mesmo os conservadores que vivem de desenterrar encíclicas esquecidas — Dom Agnelo Rossi trouxe de volta à ativa o padre Leonel Correa, nonagenário, ultraconservador, intransigente. Um monumento vivo à rigidez clerical. Nomeado, sem consulta nem cerimônia, para reassumir a paróquia do Rosário, na Zona Sul.

Mas não se enganem: isso não é uma guinada doutrinária. Não é Rossi abraçando a batina preta e o latim. É algo mais grave — e mais confuso. Rossi não escolheu o conservadorismo. Escolheu o confronto. Respondeu à crítica com barulho. À desobediência com provocação.

A nomeação de Leonel é uma resposta à pressão,
não uma adesão ao trono de ferro da Tradição.

Lembremos: foi o próprio Rossi quem, nos primeiros dias de governo, prometeu sinodalidade, escuta, reforma. E foi também ele quem silenciou o então chanceler, padre Renan Bendor, depois que este o acusou de centralismo, isolamento e “pastoral de gabinete”. Bendor sumiu. Literalmente. Desapareceu do mapa e da pauta.

Agora, depois de levar pedrada pública de padre Geraldo Maia — que chamou sua gestão de "muros altos e janelas trancadas" — o arcebispo não reagiu com diálogo. Reagiu com uma nomeação calculada como uma bofetada. 

Padre Leonel, por sua vez, é o anti-Maia em tudo: onde Maia canta com o povo, Leonel dita regras. Onde Maia sonha com reforma, Leonel deseja restauração. Onde um vê profecia, o outro enxerga rebeldia. Mas é aí que mora o nó. Se Rossi fosse, de fato, um conservador, faria sentido. Mas ele não é. Seu histórico pastoral, suas opções litúrgicas e até seus discursos em retiros o colocam firmemente no campo progressista — talvez não radical, mas certamente avançado.

Por isso, a pergunta que paira no ar e que atormenta os corredores da Cúria é outra: Rossi ainda sabe o que está fazendo? Ou pior: ele ainda acredita no que dizia quando assumiu?

Porque se não é mais um líder pastoral, é apenas um gestor de crise. E se sua resposta à crítica é reviver fantasmas, o Sínodo Arquidiocesano — aquele que prometia ser um espaço de escuta — corre o risco de virar palco de embate. Não entre ideias. Mas entre egos, entre idades, entre estilos irreconciliáveis.

A Arquidiocese está agora entre dois padres que não dialogam — e um arcebispo que, ao que tudo indica, não quer mais mediar nada. E nós? Resta-nos esperar. A missa ainda não começou, mas o clima já é de velório.
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