CARTA ABERTA DO PE. RENAN BEDOR

*Os campos em vermelho foram respondidos pela Arquidiocese de São Paulo.


          Caros irmãos e irmãs que, juntos, cada um em sua individualidade, seu jeito, compomos o Povo de Deus, 
paz e graça. 



          Ao longo de alguns anos de serviços pastorais prestados à Igreja de Deus, nunca me servir dos meios oficiais (sites, principalmente) para defender meu ponto de vista ou manifestar meu direito de resposta sobre algum fato ocorrido ou acusação, quer seja esta injusta ou não. Mas, creio que seja necessário o Pe. Renan Bedor expor seu pensamento sobre alguns fatos ocorridos.

Enumero-os:

1º, somos Católicos, Apostólicos, Romanos. Não somos cristãos soltos, avulsos. Nossa participação, integrando o Povo de Deus, é, inicialmente, dada pelo Sacramento do Batismo, que, embora seja para todos, é um Sacramento da Igreja, por ela guardado e regulamentado. O Papa, ao nomear um bispo, envia um documento chamado "Bula Papal" ou, dentre outros nomes, "Bula Pontifícia", "Bula de Nomeação" etc., que, além do zelo histórico, possui, creio, um rico significado eclesiológico: a partir da leitura de tal documento, atestamos nossa comunhão com Roma. O ritual, para a leitura, é tão rico que, ao término de tal leitura, a assembleia diz: "graças a Deus" ou "demos graças a Deus". A atitude do bispo de São Paulo, ali empossado, foi: "pegue essa bula e venda, se é que vale alguma coisa" - não, necessariamente, nessas palavras. 
          Para mim, sacerdote Católico, Apostólico, Romano, essa atitude foi assustadora. Cheguei a pensar que estávamos, a partir de então, no início de um cisma - inclusive, perante o clero, eu disse ao arcebispo que não comungava com tal atitude. 

É de espantar que um sacerdote que se diz zeloso pela tradição não saiba distinguir entre uma Bula de Nomeação Apostólica, que é guardada na Cúria e apresentada segundo rito litúrgico apropriado, e uma carta de saudação, para conhecimento do povo fiel. O desprezo que sugeres – e que fostes rápido em teatralizar como “cisma” – jamais existiu, senão em tua leitura desatenta e vã. A leitura do documento foi acompanhada da proclamação do nome do Sumo Pontífice e do louvor devido à Sé Apostólica. Nada mais conforme à disciplina eclesial. Lamento, porém, que tenhas confundido forma com essência.

2º, julgo que sabemos que, teologicamente, a Cátedra do Bispo possui um significado profundo. É bem verdade que, historicamente, esse costume de cátedra fora inculturado na Santa Igreja por costumes de reis e imperadores de outrora. O cristianismo ressignificou tal inculturação dando à Cátedra o tom de autoridade e pastoreio - vejamos que é deste significado que surge a Festa Litúrgica da Cátedra de São Pedro: é da Cátedra que o bispo governa. 
          O Arcebispo de São Paulo, lá naquela posse que gera divisões de opniões até o presente momento, relatou não querer usar muito a Catedral de São Paulo. É uma escolha que o Arcebispo faz e eu, sendo padre ou não, não me vejo com autoridade para fazer o Arcebispo mudar de ideia ou convicção. 

Insinuações sobre “tramas”, “intrigas” e “autoritarismo” poderiam, talvez, parecer denúncia legítima — não fosse o fato de terem sido amplamente desmentidas pelo clero presente na ocasião, que testemunhou o gesto inédito de fechamento da Catedral por parte de um cardeal Scola. O silêncio que mantive quanto às razões da mudança de local foi uma expressão de colegialidade e respeito. Se não usastes do mesmo critério, creio que não se deve ao zelo pastoral, mas à necessidade pessoal de polêmica e autopromoção.

3º, o Arcebispo, numa carta recente, intitulada "Carta Pastoral de Esclarecimento à Comunidade e ao Povo de Deus", disse que o Pe. Renan Bedor o tinha chamado de ditador. O que levou o Pe. Renan chamá-lo assim? 

3º,A: qualquer clérigo, novo ou ancião, sabe do forte temperamento do Arcebispo de São Paulo. Temperamento este que, ao colocar uma enquete no grupo da Arquidiocese no WhatsApp e não ser respondido, ele indiga aos clérigos nesses tons: "estão cegos?", "não respondeu por que?". 

3º, B: o tom autoritário e ditador do Arcebispo dar-se quando, organizando um evento, ele dita sua vontade, como se essa fosse suprema, sem abertura alguma para que o outro pense diferente - ou, pelo menos, verbalize esse pensamento. Me sinto na obrigação de lhes dar um exemplo: a Arquidiocese pensou numa Semana Santa integrada, com a participação de todas as paróquias. Disponibilizei a Paróquia Nossa Senhora da Assunção, a qual sou pároco, criador e fundador, para acolher a Arquidiocese na quarta-feira, 09/04. Na ocasião, iríamos celebrar a Santa Missa e lançar a Páscoa das Comunidades 2025. O Arcebispo tão somente ignorou, manifestando sua vontade para que, ao invés da Missa de lançamento, fosse rezada a Via-Sacra, passando por todas as paróquias. Ainda argumentei que achava bom que fosse assim, mas que, ao término, fosse celebrada a Missa e ele a presidiria. Ele ignorou, dizendo que era melhor, para não prolongar, ao invés da Missa, a Benção do Santíssimo Sacramento. Percebi, mas aceitei, afinal, para ele, sua vontade é soberana, não é mesmo?! Depois, lhes dei a ideia de fazermos a antepenúltima estação na Praça da Sé, a penúltima na Catedral e a última defronte à Assunção, onde entraríamos para a Benção do Santíssimo. O Arcebispo, como já esperávamos, foi contra. Disse que não queria nada na Catedral. Qual resultado de tudo isso? Resolvi não participar da organização de tal evento, guardando silêncio. Como organizar um evento onde o "chefão" só dita? E mais: não compareceu ao evento. Igual o cantor Tim Maia. Eu, juntamente com outro padre da Arquidiocese, rezamos a Via-Sacra na Assunção. 

O vosso relato carece de precisão e de coerência. Fostes nomeado delegado episcopal para a Via Sacra, mesmo sendo um dos que mais criticavam o evento. A proposta da Via-Sacra integrada visava justamente dar visibilidade às comunidades mais esquecidas, missão que vós alegais abraçar mas da qual, curiosamente, nunca vos vimos participar com constância. As decisões litúrgicas foram tomadas com base no parecer do clero e da comissão organizadora — o que não vos autoriza a usar de ressentimento para denegrir a todos os que, silenciosamente, trabalharam para edificar a comunhão eclesial.

3º, C: o Arcebispo, querendo se livrar da fama de ditador, me nomeou pároco da Catedral sem nem sequer me comunicar. Numa carta, com um tom de vitimismo, me retirou da Assunção e quis colocar na Catedral. Ora, não é uma Ditadura? Talvez uma Ditadura de Esquerda, mas ditadura. NENHUM BISPO NOMEIA UM PADRE SEM ANTES CONVERSAR COM ELE, SEM SABER DE SUAS LIMITAÇÕES, SEM ESTUDAR SE O PADRE DARÁ CONTA OU NÃO DO DESEMPENHO DE TAL MISSÃO. MAS UM DITADOR TOMA DECISÕES E IMPÕE SEM MEDIR CONSEQUÊNCIAS OU SEM SE PREOCUPAR COM O PRÓXIMO! E sabe qual será a desculpa do Arcebispo? R.: que o Conselho decidiu assim. 

          Senhor Arcebispo, se o senhor pensa que está punindo o Pe. Kleber Renan Bedor enviando-o como Pároco da Sé de São Paulo, sinto muito em desapontá-lo, mas nenhum padre se sentiria punido por ganhar a responsabilidade de guardar a Sé e conservá-la para que outros sucessores dos apóstolos que virão nela possam sentar-se. 

Me sinto honrado com a nomeação. 

É curioso que clameis por diálogo, sendo o mesmo que, diante dos padres e bispos, pediu transferência em 07 de abril de 2025 da paróquia que fundou, alegando desgaste pessoal e necessidade de novos ares. Quando propus nova missão pastoral — baseada em vosso próprio pedido —, acusais-me de ditador. Pergunto-me, então: desejais o diálogo ou desejais ser o único a ditar?

4º, ao clero de São Paulo eu peço desculpas por qualquer evento que soou como desapontamento ou desrespeito. 

São de bom tom, mas contradizem toda a carta. Pedis perdão e, no mesmo fôlego, lançais julgamentos, insinuações, ameaças veladas e autodefesas melodramáticas. Vossa fala não edifica. Convido-vos ao exame de consciência, à reconciliação sacramental e à prática do silêncio como exercício espiritual.

5º, espero que a Missa da Unidade seja para a Unidade e não para jogos de indiretas ou verbalizações de frustrações. Missa não é palco. E, desde já adianto, se eu, enquanto Pe. Kleber Renan Bedor, me sentir ofendido por qualquer incidente que ocorrer na Missa provocado por pessoas sem espiritualidade que usa os momentos celebrativos para defender ideologias ou o quer que seja, me retirarei do recinto, tendo plena consciência que não infligirei lei canônica alguma. 

Se vos retirardes, será por vossa conta. Não há lei canônica que vos obrigue a permanecer, como bem dissestes, mas tampouco há caridade pastoral que justifique transformar um altar em palco de birra e orgulho. Se não estais à altura da celebração, o povo compreenderá. E os padres também.

6º, A Catedral de São Paulo foi entregue a um padre que trabalha fora da realidade fictícia do Hablet. Sendo assim, aquilo que estiver ao meu alcance, será feito, como fiz em todos os lugares que passei, mas aquilo que para mim parecer impossível, mesmo que sejam caprichos de desocupados ou de pessoas que se ocupam com briguinhas e showzinhos, não será feito e seguirei de cabeça erguida. Aguardo ansiosamente a minha Posse Canônica, que provará,a mais uma vez, a ditadura do Arcebsipo Metropolitano de São Paulo - há um fator interessante: eu, recentemente, pedi ao arcebispo para voltar à paróquia que fundei há alguns anos atrás, a Paróquia São Sebastião. Qual intuito? Motivado por alguns padres, resgastar a história. O Arcebispo disse que não me nomearia para uma paróquia que nem sequer existia. Interessante: me nomear para um lugar que eu pedi e que fundei, o Arcebispo se nega, sob o pretexto que o lugar não existe. Mas, fazer uma nomeação por vingança, sem pensar no bem pastoral da Arquidocese, o Arcebispo age com rapidez. É UMA DITADURA. 

Com pesar e espanto, duvido seriamente de vossa capacidade cognitiva para discernir o que é conflito real do que é egolatria disfarçada de zelo. Não menos inquietante é a dúvida que me assola quanto à vossa idoneidade para o ministério ordenado, cuja nobreza exige obediência, humildade e espírito fraterno, virtudes que, ao que parece, foram eclipsadas em vosso coração.

7º, motivado pelo Pe. Reginaldo Veloso, perseguido alguns anos por seu arcebispo metropolitano, rezo: "Pai, afasta de nós esse bispo". ROMA, SOCORRO!

Invocar Roma como se fosse um campo de batalha política é zombar do que há de mais sagrado em nossa hierarquia. Mencionais o Pe. Reginaldo Veloso, mas talvez vos esqueçais que sua grandeza residia em sua coerência, não em seu ressentimento. Sua história inspira porque não se arrastava por caprichos ou fantasias. Já vós, arriscais transformar uma crítica pastoral em espetáculo narcisista.

Em Cristo,

O Justo que padeceu por nós e perpetua Seu sofrimento nos pobres e maginalizados, 
Pe. Kleber Renan Bedor, 
Pároco eleito da Sé de São Paulo. 

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