São Paulo, 10 de abril de 2025.

ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO
Carta Pastoral de Esclarecimento à Comunidade e ao Povo de Deus
DOM FREI AGNELO CARDEAL ROSSI, OFMCap
POR MERCÊ DE DEUS E DA SÉ APOSTÓLICA
ARCEBISPO METROPOLITANO DE SÃO PAULO
Reverendíssimos irmãos,
Estimados filhos e filhas,
Na condição de Arcebispo Metropolitano desta cidade de São Paulo, venho a público com o coração ferido, mas com a alma em paz diante de Deus, para responder com serenidade e transparência às denúncias e inquietações veiculadas recentemente, que apontam supostos abusos de autoridade no seio desta Arquidiocese.
Antes de qualquer pronunciamento institucional, permitam-me falar como pastor: as cenas e relatos que circularam não representam a verdade desta Igreja particular. Elas me flecharam o coração. Entristece-me ver o zelo, o trabalho e a entrega de tantos irmãos serem questionados com leviandade ou distorcidos à luz de agendas que não condizem com a verdade.
Afirmo, com serenidade: não há privilégios neste pastoreio. Cada padre, cada leigo, cada religiosa que aqui serve, o faz com dignidade e espírito de missão. E os que me cercam sabem que não há hierarquia que se sobreponha à caridade, nem cargo que se sustente sem serviço.
Sobre a carta apostólica, de cunho pessoal, enviada a mim pelo Beatíssimo Papa Urbano, e que no dia de minha posse pedi que fosse vendida em benefício dos pobres do Santuário Mãe de Deus — devo dizer: foi uma decisão do coração. Aquela carta possuía valor sentimental imenso, como gesto de carinho do Santo Padre. Porém, como afirmei naquele momento: se tais letras, que me comovem, puderem saciar a fome de um só dos nossos irmãos, então sua missão estará mais do que cumprida. É evidente que, se fosse um documento com valor jurídico ou de natureza arquidiocesana, jamais seria descartado. Mas entre emoldurar palavras que um dia cairão por terra ou alimentar um filho de Deus que passa fome, prefiro ser julgado, no dia do Juízo, por ter rompido com um presente do que por ter negado um pedaço de pão.
Quanto ao acolitato feminino, exercido com beleza e reverência na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, foi estabelecido com o meu pleno consentimento e incentivo. Encorajo os demais sacerdotes desta Arquidiocese a acolherem, com discernimento pastoral, este serviço laical tão nobre. Que nenhuma vocação ao altar, seja do homem ou da mulher, se perca por medo ou costume.
Quanto à minha ausência em determinadas celebrações, esclareço que esta Arquidiocese possui uma agenda pastoral previamente definida, elaborada junto ao sólio arquidiocesano, com clareza e ordem. Nesta semana, por exemplo, cada presbítero assumiu a presidência litúrgica de um dia, representando a figura deste arcebispo-pastor que vos escreve. Eles me representaram. E o fizeram com grandeza.
Por fim, sobre o uso da Catedral Metropolitana, muito se tem dito — e muito se acusou. O Reverendíssimo Padre Kleber Renan Bedor levantou críticas severas à decisão pastoral que levou ao desuso frequente da Sé como centro de nossa vida litúrgica. Em certo momento, chegou a me chamar de ditador. Reconheço, sem hesitação, a importância histórica, espiritual e arquitetônica daquela igreja, que por anos foi referência. Mas também reconheço — com tristeza — que, em muitos aspectos, ela se tornou uma igreja fria, palco de espetáculos e ausente da vida arquidiocesana.
Não desejo que a Catedral seja um monumento isolado, mas sim irmã das paróquias, unida a elas em espírito e verdade. E será. Mas diante dos apontamentos feitos, inclusive ao Colégio de Cardeais na figura do Cardeal Egídio Ozoloins, tomei uma decisão pastoral: transferi o Pe. Kleber da Igreja de Nossa Senhora da Assunção para a Catedral Metropolitana da Sé. Assim, poderá dedicar-se, com zelo e coerência, a devolver à Sé sua alma pastoral. Que suas críticas agora se convertam em trabalho.
Hoje, nesta Quinta-feira Santa, em que celebramos a Ceia do Senhor, rogo pela unidade sacerdotal deste clero. Em breve, nos reuniremos, todos juntos, às 21h45, na Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes para partilhar, com o povo, a graça do Ministério.
Seguimos juntos. Esta Igreja é viva, é dinâmica, é santa e ferida, como o Corpo de Cristo. E como Ele, carrega em si as marcas da cruz e da esperança.
